sexta-feira, 8 de novembro de 2013

BULLYING EM FAMÍLIA

Certa vez, uma senhora me falou sobre seus dois filhos. Segundo afirmou, o primeiro era mais inteligente.

“-Tenho preferência por ele, sim. Seria mentira falar que não”.

Pensei na vida do caçula. Qual seria o sentimento, ao perceber que a mãe prefere o mais velho? Tomei consciência de que isso acontece muito mais do que se comenta.

Fala-se de bullying.

Livros abordam violências verbais e até agressões físicas que ocorrem nas escolas. O ataque costuma ser dirigido a quem é de alguma maneira diferente: os gordinhos, os maus esportistas, os nerds, os mais pobres, entre outros.

Submetidas a uma pressão constante, as vítimas muitas vezes se rebelam. E dentro da família?

Um amigo passou a infância perseguido pelo irmão mais velho. Tudo era motivo para zombaria e até ataques físicos. A mãe, ausente, não punia o agressor.

Hoje os irmãos têm uma relação distante, mal se falam. Agora a mãe se lamenta. Não entende por que os filhos não se dão bem.

É difícil tocar neste assunto. Cada família possui uma dinâmica diferente. Nem sempre as situações são evidentes, mas o atingido percebe o desprezo. Ou a comparação.

É comum uma criança de olhos azuis ser coberta de elogios. Ninguém fala do irmão de olhos castanhos. Só a mãe pode ajudar, valorizando os dois.

Pais inventam sonhos para os filhos. Desejam que se tornem bem-sucedidos, talvez famosos. Já vi homem com bebê no colo garantir:
“-Este aqui vai ser jogador da seleção. E ganhara a Copa!”

O bebê sorri, sem saber da cilada. Pode ter pendor para a informática. Talvez nunca seja um craque. Passará horas diante da telinha.

Muitas vezes, o que parecem ser gestos de amor, de incentivo, são ameaças porque o filho ou irmão não segue um padrão. É difícil, mas cada família deve abrir sua caixa-preta. Adquirir a coragem de encarar suas falhas. E aprender a trocar a agressão pelo abraço.


Autor: Walcyr Carrasco

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