BULLYING EM FAMÍLIA
Certa vez,
uma senhora me falou sobre seus dois filhos. Segundo afirmou, o primeiro era mais inteligente.
“-Tenho preferência por ele,
sim. Seria mentira falar que não”.
Pensei na
vida do caçula. Qual seria o sentimento, ao perceber que a mãe prefere o mais
velho? Tomei consciência de que isso acontece muito mais do que se comenta.
Fala-se de
bullying.
Livros
abordam violências verbais e até agressões físicas que ocorrem nas escolas. O
ataque costuma ser dirigido a quem é de alguma maneira diferente: os gordinhos, os maus
esportistas, os nerds, os mais
pobres, entre outros.
Submetidas
a uma pressão constante, as vítimas muitas vezes se rebelam. E dentro da
família?
Um amigo
passou a infância perseguido pelo irmão
mais velho. Tudo era motivo para zombaria e até ataques físicos. A mãe,
ausente, não punia o agressor.
Hoje os
irmãos têm uma relação distante, mal se falam. Agora a mãe se lamenta. Não
entende por que os filhos não se dão bem.
É difícil
tocar neste assunto. Cada família possui uma dinâmica diferente. Nem sempre as
situações são evidentes, mas o atingido percebe o desprezo. Ou a
comparação.
É comum
uma criança de olhos
azuis ser coberta de elogios. Ninguém fala do irmão de olhos castanhos. Só a mãe pode ajudar, valorizando os dois.
Pais inventam sonhos para os
filhos. Desejam que se tornem bem-sucedidos, talvez famosos. Já vi homem com
bebê no colo garantir:
“-Este aqui vai ser jogador
da seleção. E ganhara a Copa!”
O bebê
sorri, sem saber da cilada. Pode ter pendor para a informática. Talvez nunca
seja um craque. Passará horas diante da telinha.
Muitas
vezes, o que parecem ser gestos de amor, de incentivo, são ameaças porque o
filho ou irmão não segue um padrão.
É difícil, mas cada família deve abrir sua caixa-preta. Adquirir a coragem de encarar
suas falhas. E aprender a trocar a agressão pelo abraço.
Autor: Walcyr Carrasco
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