A lei seca continua mostrando o circo que é o Brasil
Por Christian Gurtner
Dirigir bêbado é algo horrível, irresponsável e
deve-se, sim, penalizar o infrator. Fato.
Tendo esclarecido isso para aquele leitor
desavisado, podemos continuar agora com o principal: o Brasil é uma piada e o
governo – além de corrupto, é assassino, injusto e completamente alienado ao
que acontece nas ruas.
A lógica dos políticos brasileiros pode ser
ilustrada da seguinte forma: é como sermos governados por marcianos que nunca
vieram à Terra. “E como em marte tudo está bem, próspero e feliz, pra que
melhorar a Terra?“
A lei seca é mais um marco da estupidez brasileira.
Um ícone que simboliza toda a incompetência e alienação daquelas pessoas que,
por mais ignorantes, corruptas e charlatãs que sejam, temos que chamar de
“autoridades”.
A lei – antes da famosa lei seca – era perfeita. O
que falhava na época – e ainda hoje – é a fiscalização. De que
adiantam leis sem agentes que as façam ser respeitadas? Mas os marcianos
pensaram que, se piorassem as penas, a fiscalização, como mágica, seria mais
eficiente. Resultado? Penas mais duras, fiscalização continuou falha e bêbados
continuaram dirigindo. Mas os marcianos decidem que as penas tem que ser
pioradas – de novo – pois não se aprende com os próprios erros em marte.
Resultado? Aguarde cenas do próximo capítulo – que não deve mudar muito. Sem
fiscalização não há respeito às leis. Assim funciona o ser humano –
principalmente o brasileiro.
Hoje não se pode beber mais nem uma gota de álcool.
E os bêbados que dirigem são tratados como marginais – o que eles são em
potencial, pois a probabilidade de matar ou machucar alguém ao dirigir
bêbado aumenta muito – e se você assume esse risco, você comete um ato
de extrema irresponsabilidade. Mas os que dirigem depois de beber um copo de
cerveja, que não atrapalhou de forma alguma seus reflexos ou funções
cognitivas, também são considerados bandidos.
Resumo: estamos
pagando pela incompetência do governo.
Num mundo
perfeito…
…não existem motoristas bêbados dirigindo por aí,
todos seguem as leis de trânsito e a rua é um lugar seguro para motoristas e
pedestres.
Mas no
Brasil
existe um grande problema. Estamos vivendo um
paradoxo que beira o nonsense. Enquanto as pessoas são proibidas de beber e
dirigir, não há duas coisas importantíssimas para o sucesso da lei e a
satisfação do cidadão:
transporte público decente e segurança nas ruas.
A partir do momento que você abandona seu carro
para poder se divertir e consumir alcóol, você vai depender do transporte
público. O problema é que depender do transporte público, é como religião: você
reza e só 50% de suas preces são atendidas. São ônibus fétidos, lotados e,
dependendo da hora que você for voltar para casa, você não terá nem ônibus ou
metrô – ou terá que esperar muito para pegar o próximo.
E utilizando o transporte público, principalmente a
noite, você praticamente pinta um alvo em sua testa, pois além de não fornecer
transporte decente, o governo também não oferece segurança nas ruas. Isso quer
dizer que você, além de esperar horas, pegar um ônibus fedorento e se sentir um
saco de batatas com ruas esburacadas e motoristas trogloditas, você ainda tem
uma grande chance de ser assaltado e, quem sabe, contemplado com um tiro na testa.
Temos opção? Nem todos. Pois essa opção são os
caríssimos táxis.
Um bom exemplo: moro numa área afastada onde o
ponto de ônibus mais próximo fica a 3 km de minha casa – com morros de assustar
um maratonista. À noite e domingos quase não há ônibus. Se eu decidir pegar um
táxi para encontrar amigos num pub no bairro mais próximo ao meu (nem estou
exagerando querendo ir no bairro que eu quiser, e sim ao mais próximo) gastarei
100 reais de táxi para ir e voltar, sendo que no pub eu não gastarei mais que 50
reais. Ou seja, é inviável.
O marciano impõe leis e proibições, mas não
oferecem opções viáveis, pois eles não precisam. Têm – pagos por nós – choffeur
para seus carros de luxo, seguranças armados e o exclusivo direito de ir e vir.
Uma
observação importante
O problema do transporte público e da violência, se
resolvidos, não só ajudariam os bêbados, mas toda uma legião de pessoas
conscientes que gostariam muito de deixar os carros em casa, diminuindo a
poluição, sanando o caos do trânsito e melhorando a qualidade de vida.
Muitos podem dizer que motoristas que tem condições
melhores, não usam o transporte público por frescura, pois os pobres não tem
opção e tem que pegar os ônibus fétidos de qualquer forma.
Há muito que gostaria de fazer um comentário sobre
tal afirmação: pode ser frescura sim. A classe média está acostumada com algum
conforto. Mas que espécie de país não comunista, ao invés de dar mais conforto
para os pobres, tira o conforto dos mais afortunados para depois dizer que
“todos estão iguais, não reclamem”. Melhorando o transporte público, todos
terão paz e conforto – pobres e classe média (os ricos continuarão
passeando com seus helicópteros).
O pior de
tudo
É impressionante ver a capacidade que o governo tem
de aumentar – rapidamente e sem enrolação – penas e leis contra o cidadão de
bem que comete erros e a completa inoperância contra os bandidos de carreira,
que contam com penas leves, podem
cometer crimes à vontade até fazer 18 anos (com 16
já são mais machos que muito macho de 30 por aí) – e depois disso não ficam
presos por muito tempo. A polícia está manchada pela corrupção, por abusos e
despreparo de seus agentes. A justiça presa à leis criadas em época de ditadura
que tinham objetivos completamente diferentes dos de hoje – leis desatualizadas
e injustas, que ajudam o bandido, que já está feliz com tanta impunidade
(inclusive os bandidos de terno e gravata). Vimos o completo desarmamento do
cidadão honesto para o completo armamento dos criminosos.
Estamos diante de um governo que tem medo ou está
associado ao crime. Só combatem quem está indefeso. O criminoso está armado,
faz parte de facções poderosas e domina os políticos e deixa os inocentes
encarcerados em suas próprias casas com medo. Um governo onde se explora e
escalpela a trabalhadora classe média, usando o suor dela para jogar migalhas
aos pobres para ganhar votos, e ouro para os corruptos para ganhar poder. Só
paga quem trabalha.
Vivemos num país de merda.
A REALIDADE DAS PLACAS DE TRANSITO.