O VICIO TAMBEM PODE SER UMA ESCADA
PARA A LUZ
Antes de dizer que não fuma, não bebe ou não usa drogas,
graças a Deus, atente para o fato de que é praticamente impossível uma vida sem
vícios… ao menos para gente, digamos assim, como a gente: feita de carne, osso
e muitas fraquezas.
Os vícios estão por toda parte, são uma praga. Tenho um
amigo, por exemplo, cristão fervorosíssimo, que é viciado na palavra “inferno”. Em cinco minutos de conversa, ele
manda meia-dúzia de “infernos” no ouvido do interlocutor. Dia
desses, incomodada com o lance, perguntei se ele se dava conta da situação.
– Eu?! Imagina se vou ficar falando uma palavra
baixo-astral dessas! Mas o vício é assim mesmo: a gente nem percebe sua
existência, e é por isso que ele, ao contrário de tudo na natureza, nasce, cresce
se reproduz e não morre.
Curar-se de um hábito ruim exige muita força de vontade e
vigilância ferrenha, talvez porque o ser humano tenha realmente uma natural
tendência para o erro. Imagino que, para ser compensado, tenha recebido o dom
da consciência… e é aí que está toda a diferença: se é que temos um leme para
levar a vida, ele é justamente a consciência.
Afinal, como buscar o
autoconhecimento e a autocorreção se não for através dela?
Somente a partir do seu olhar sem paixão sobre si mesmo é
que você poderá enxergar onde tropeça. Quer ver só?
É praticamente impossível passarmos um diazinho, entre os
sete da semana, fazendo um bom jejum de vícios, porque está por aí, por toda
parte, uma variada oferta deles, e para qualquer situação: as mentirinhas “sem importância”… a fofoquinha “boba”… a crítica destrutiva… a reclamação… os palavrões, tão banalizados… a gula… o consumismo… a agressividade… e vou parando por aqui para
economizar tempo e espaço.
Perdidos entre nossos gestos automáticos do cotidiano,
estes comportamentos venenosos fazem tanto mal à vida quanto a nicotina e o
álcool, porque também destroem amizades, amores, esperanças e oportunidades,
além de semearem a discórdia, a tristeza e a solidão.
Pense bem antes de dizer, de agora em diante, que não tem
vício nenhum. Eles estão colados ao comportamento humano, invisíveis e
silenciosos… mas podem ser vencidos só com um pouquinho de esforço e atenção.
Chego a pensar que foram criados, inclusive, para isso mesmo: um exercício a
mais para os homens de boa-vontade.
Autora: Fernanda Dannemann
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